quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Ocaso - Por Carolina Nogueira

A menina entra em casa ainda saltitando e dando piruetas. O sorriso de quem brincou a tarde inteira de um dia de sol não queria mais sair do seu rosto. A mãe já a apronta para ir dormir e quando a menina se dá conta, já está de pijamas e tomando um leite quente. A empolgação de criança brincando ainda não foi embora. Como em um susto ela vê que acabaram-se as brincadeiras.

- Boa noite, meu coração.

- Boa Noite?- pergunta a menina espantada

- É filha, está na hora de dormir.

Ela simplesmente não se conforma com a idéia de ir dormir e deixar a amarelinha, pega-pega, boneca, casinha só para o outro dia. Uma discussão quase que filosófica surge na cabeça de uma garotinha. Nos seus cinco longos anos de vida, sabe que brincar é a melhor coisa do mundo.

- Mas eu não quero ir dormir. Quem falou que é hora de dormir?

- Quando o sol vai embora é hora de dormir, menina.

Ela olha para fora e não vê se quer um raio de sol. Chora como a criança que é.

- O sol foi embora, né, mãe?

- Foi filha. É hora de descansar. Não chore por isso.

- Mas por que ele foi embora, mãe? – soluçando, ela questiona.

Pacientemente a mãe tenta não entrar no assunto rotação e translação e tenta dar uma resposta simples.

- Bom, o sol foi embora por que é necessário. Existem crianças em outros lugares que pediram que ele fosse brincar com elas.

- Mas agora quando eu vou brincar? – ela perguntava preocupada, olhando para a janela.

- Você agora deve dormir, coração. Toda criança precisa descansar.

- Eu não quero descansar, eu quero saber onde foi o sol.

A menina nesta hora se lembrava de todas as brincadeiras, do calor do sol, e de tudo de bom que havia lá fora que o sol mostrou para ela. Era difícil pensar que ele teria ido embora sem avisar quando voltaria. A mãe preocupada com o engano da filha tenta adormecer a menina.

- A noite é importante, princesa. E você já parou para pensar que amanhã podem vir outros raios de sol? Tão fortes, quentes e gostosos como os que se foram.

A filosofia vira negociação e a garota se interessa na proposta. Aproveitando que a menina tenha parado de chorar, a mãe continua a sugestão:

- Por que você não aguarda o sol chegar amanhã. E se você dormir um pouco a noite passa muito mais rápido, querida.

Os olhinhos já não estão mais tão vermelhos, e os soluços cessaram. Com uma expressão que mistura tristeza pelo fim e esperança pelo novo dia, ela se acomoda debaixo das cobertas.

- Promete que o dia chega logo? – pede a menina apreensiva

- Prometo. Descansa coração.

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